A Mudança #3





Um par de horas mais tarde já se encontrava com o seu chefe em frente ao Juiz Presidente.
- Bom dia Sr. Dr. -  diz, dirigindo-se ao Juiz.
- Bom dia Dr. - diz o seu Chefe, em tom cordial.
- Bons dias! Oh Santos, temos de resolver aquele problema do ar condicionado, lembre-me mais tarde, pois presumo que não seja esse o assunto que vos trás cá?! - indaga.
- Em boa verdade não! Aqui a nossa funcionária tem um pedido para lhe fazer! - informa o seu Chefe.
- Sim, Dr. Eu submeti um requerimento para transferência e está dependente da sua aprovação... é nesse sentido o meu pedido. - afirma esperançosa.
- Devo depreender pela presença do seu Chefe que já tem o seu aval? - pergunta o Juiz.
-  Sim, não sem certa relutância... mas sim! - responde seu Chefe.
- Sendo assim e se é o que pretende, só me resta questionar se seu lugar ficará preenchido com esta mudança? - olha para o Chefe.
- Não será imediato, mas em curto espaço de tempo teremos alguém substitui-la... nas suas funções claro. - sorri.
- Bem, então dê-me o dito requerimento. - vira-se para ela.
O Juiz Presidente pega no requerimento, rabisca um «não me oponho, vai deferido» e assina por baixo da respectiva data.
- Bom aqui tem, espero que essa mudança lhe seja favorável! - entrega-lhe o papel, sorrindo.
- Obrigada Sr. Dr.! Será certamente. - despede-se. 
Afasta-se do gabinete do Juiz deixando o seu chefe com o mesmo, assuntos internos não lhe diziam respeito.
Apressasse para enviar o fax com aquela nova assinatura, ainda antes do almoço. Agora sim, ainda que fosse ficar em suspense, já podia relaxar um pouco! Não estando aprovado, tinha todas as assinaturas em ordem. Só restava esperar...

Ah finalmente eram cinco da tarde, sexta-feira! O ritual de deixar o escritório às 5 e ir relaxar para uma esplanada com uma imperial de fim de dia, ainda sabia bem! Apesar de os dias estarem a ficar mais curtos e mais frescos. 
Mas hoje tinha uma sensação diferente, parecia-lhe que tudo estava na eminência de mudar... e estava.
Enquanto se preparava para para desligar o PC, uma silhueta assomou-se à porta do seu gabinete. 
- Então, pronta pra grande aventura? - com um sorriso rasgado, o seu Colega indaga.
- Só podias ser tu a esta hora! Qual aventura? - põe as mãos nos quadris.
- Ora a aventura da partida! A aventura que nós vamos ter, eu e tu para a despedida! Claro! - pisca-lhe o olho com uma careta.
- Ah essa aventura! Não sei se me sinto assim tão aventureira... O que marcha agora é uma bela imperial, depois logo se verá! Satisfeito? - riposta.
- E porque não? Já é um começo, baby steps! Pronta? - escancara a porta e acena na sua direcção. - andiámo ragazza. 
Pega na sua mala e casaco e afasta-se com o seu Colega, apanham o elevador e atravessam o átrio do edifício para a rua. Aí chegados apertam os casacos - Parece que vai chover - observa ele - É melhor não irmos para a "tua" esplanada! O que te parece o Irish? Uma Pint calhava bem! - desafia.
- Bem observado! Vamos lá, com umas batata fritas caseiras, ui! - sorri de satisfação.  

Já bem acomodados dentro do Irish Pub, com duas pints de guiness e uma travessa de batatas fritas com molho de alho, erguem os copos num brinde: - Às sextas-feiras, aos amigos ausentes, à tua e à tua mudança! - saúda-lhe. 
- À Nossa! - devolve-lhe o brinde.
Olham-se por um breve momento, enquanto saboreiam o trago de cerveja.
- Vou sentir saudades tuas... - diz ela por fim.
- Sim, já tinhas referido. Também irei ter saudades, destas pausas e pequenas cumplicidades. Mas e usando um cliché, não há longe nem distância! - ergue de novo o copo e pisca-lhe o olho - À Saudade! - brindam de novo.
- Bom, também não façamos disto um drama. Só vou ficar condicionada ao outro lado do rio durante a semana. Aos fins-de-semana estou por cá!- pisca-lhe o olho de volta.
- É bem verdade. Vai te fazer bem... novas perspectivas! - mordisca uma batata - Hum estão óptimas, não te acanhes! - indica-lhe a travessa.
- Saborosas, sem dúvida. Sabes o que caía bem? Uns cogumelos salteados! - acena para o empregado.
- Gosto de te ver assim, bem disposta e decidida! - observa.
- Sim, hoje e agora, sim! Preciso disto, sabes? Esta mudança. - responde-lhe.
- Eu sei, eu observo. - informa.
O empregado aproxima-se com a bandeja dos cogumelos e deposita-a na mesa - Está tudo em ordem? - questiona.
- Sim, obrigado(a)! - respondem em uníssono. Entre-olham-se e como seria de esperar - brindam mais uma vez, um brinde silencioso e cúmplice...




(Continua...)

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