Ficar em casa


Ficar em casa, que estranha ironia...

E de repente tens, temos de ficar em casa, ...
Eu, irá fazer em Abril um ano, que padeci de mal semelhante: "ficar em casa".

Quem diria que, na curva da vereda da vida se me iria deparar novamente com tal cenário, mas com pressupostos completamente dispares.
Ainda assim com a convergência de "ficar em casa". 

Olhando para trás, desta parte a um ano, eu estava precisamente na eminência de um colapso da mente e do espírito, o qual me levaria a "ficar em casa".
No entanto, e aqui reside a grande diferença, o meu "ficar em casa", foi vivenciado de uma forma, digamos que, obscura.

Agora estou em casa sim, mas estou a viver a minha casa, ou seja estou a interagir com ela.
Há um ano isso não acontecia, não aconteceu.
Há um ano, caí num buraco negro, simplesmente não havia luz e entreguei-me à depressão.
A tal ponto, que sair de casa naquela altura era um martírio, de tal forma, que o pânico apoderava-se de mim e não chegava a sair de casa. 
E isso não era bom...

Agora tenho o reverso da medalha, não saio de casa, mas não é porque não sou capaz, é porque a cautela assim o dita.
Em ambos os casos há um ponto de convergência: a perda de controle.
Há um ano perdi o controle da minha emoção e razão, tive de ficar em casa.
Agora, já não posso controlar a minha rotina quotidiana [se é que alguma vez temos o controle], controlar a forma como posso viver a minha vida, para somente poder ficar em casa.

Daí eu ter-lhe chamado, estranha ironia.
E é irónico particularmente para mim.
O meu confinamento social [sim porque eu vivi essa situação auto-induzida por largos meses] de há um ano, adveio por uma incapacidade psicológica.
Este novo confinamento social é-me imposto por algo exterior, não interior, não enraizado na minha mente...
No entanto, tudo é passageiro, aliás como tudo na vida.

Agora, há uma diferença crucial.
O meu "auto-confinamento", foi um pesadelo de desespero e toda uma avalanche de sentimentos e sensações negativas, que não me permitiram de todo avançar, quanto mais subsistir.
Um ano volvido e sentindo-me apta e capaz, este novo confinamento, por mais consequências negativas que possa vir a ter num futuro, já está a trazer frutos positivos para mim.

Quando por dentro estás mal, isso reflecte-se no exterior e repercute-se nas situações da vida quotidiana, até no simples " ficar em casa".
E a verdade é que em 2019 eu estava mal, estava em sofrimento... em 2020 eu queria agarrar novamente a vida... e a ironia é exactamente essa: eu podia mas não conseguia, agora consigo mas não posso [posso mas com as devidas restrições].

Estão a ver a fragilidade das situações? Nem sempre podemos tudo o que queremos, e por vezes... também não queremos tudo o que podemos.
Ainda assim é uma aprendizagem, aprendermos a conhecer-mo-nos neste "ficar em casa".



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