A Mudança #6


 (Continua...)



Um som constante, agudo e impertinente intrometeu-se nos seus sonhos, "que estranho ruído" pensou, ainda a dormir. Quando finalmente a realidade do despertador a tocar a atingiu, deu um salto e sentou-se na cama. Bolas! Não podia chegar atrasada. Mas a modorra matinal estava bem instalada em seu corpo. Arrastou-se para a cozinha, para executar aquele ritual matinal, café com leite e o primeiro cigarro. 

   Quarenta minutos depois, já estava fresca e apresentável a tomar o café da manha na pastelaria da esquina. 
Mais uns quantos minutos de apertos nos transportes públicos, com as usuais conversas sobre o tempo, a novela e o futebol e para seu alívio, chega à porta do seu local de trabalho.

           Respira fundo, enche-se de coragem e enfrenta mais uma semana de trabalho.
   Distribui os usuais bons dias, conforme avança até ao seu piso e gabinete. 
Minutos mais tarde, já se encontra sentada à sua secretária, ordenando mentalmente todas as tarefas concluídas e as que eventualmente poderiam estar por concluir, quando é subitamente interrompida pelo toque do telefone.
Instintivamente olha para o relógio, nove e meia. O visor do telefone indica a extensão do seu Chefe. Apreensiva, atende:
"- Bom dia Chefe! 
- Bom dia! Parece que temos fumo branco. O teu pedido foi deferido e, devem ter urgência, com efeitos imediatos.  
- Não posso dizer que esteja surpreendida... era o que eu queria... mas sempre pensei ter mais tempo. Suponho que amanhã já tenha que me apresentar lá?! 
-Sim sem dúvida, mas passa no meu gabinete para tomares conhecimento do fax. Até já!
-Até já!"

     Ainda perplexa pela rapidez da resposta ao seu pedido, "certamente o departamento para onde irei estará desfalcado de funcionários", considerações que não ajudavam em nada o seu estado de espírito apreensivo, quando devia sentir-se aliviada, conseguira o que queria.

      Encaminha-se para o gabinete do Chefe e cruza-se com o seu Colega:
- Oh Bom dia! O café tem de ficar para mais tarde, vou falar com o Chefe! - apressa-se a dizer.
- Bom dia! Calma garota! Quase que sou capaz de adivinhar o que vem daí... tranferência?! - riposta com uma expresão triunfante e divertida.
- Sim, mas já te ligo. Até já! - e encaminha-se para o elevador.
- Até já, boa sorte! - sorri e fica estático a observar as portas do elevador fecharem-se.

        Já à porta do gabinete do Chefe bate para indicar a sua presença, pede para entrar e o Chefe indica-lhe uma de duas cadeiras posicionadas em frente à sua secretária.
Avança sem hesitar e senta-se.
O Chefe entrega-lhe um documento, lê-o "...pelo exposto defere-se a requerida transferência, com efeitos imediatos."
- Ora aí tens, o que tanto desejavas. Amanhã começas com uma nova equipa, um novo trabalho. Fico feliz por ti por ser o que querias e infeliz por mim que perco um elemento precioso! Vá assina lá isso! - entrega-lhe uma esferográfica.
- Obrigado Chefe, pelo apoio! Mas já amanhã é tão drástico... enfim, é assinar e arrumar o assunto. - rabisca a sua assinatura, por baixo da um "tomei conhecimento" e devolve o documento e a esferográfica ao Chefe.
- Assim de repente, nem deu para organizar algo em jeito de despedida... mas espero que mantenhas contacto e nos visites regularmente! - diz-lhe o Chefe.
- Em jeito de despedida, beberemos um copo um dia destes! Fica combinado e quanto a visitas é óbvio que não perderei uma oportunidade! - assegura-lhe.
- Óptimo! agora vai trabalhar, que ainda és nossa por um dia! - esboça um sorriso.

        De volta ao seu gabinete, pega no telefone e marca a extensão do Colega: 
"- Cafézinho?!
- Vamos lá então!"
Dirigiu-se ao piso da sala do café onde alguns colegas se encontravam a fazer uma pausa. 
Introduz uma moeda na máquina do expresso e passados segundos retira de lá um cappuccino, avança para uma das mesas vazias e senta-se.
Já saboreava o seu cappuccino, quando o Colega entrou na sala.
- Então novidades? - pergunta-lhe, ele.
- A boa, é que me vou embora, a má, é que me vou embora amanhã! - responde-lhe, ela.
- Bom, é discutível se há uma notícia boa no meio dessa frase... na minha perspectiva, claro! - pisca-lhe o olho.
- Oh bolas! Fico lisonjeada que te entristeça a minha partida. Mas és meu amigo! Preciso do teu apoio! -
- E tens-lo, todo! Desculpa o desabafo. Então já só temos esta noite para "prevaricar"! - remata, com um dramático gesto de abrir e fechar aspas.
- Prevaricar?! - ri-se com gosto - Não só, não teremos apenas esta noite, como também não há nenhuma razão para tal! - desafia-o, de sobrolho levantado.
- Oh, não me digas que não vai haver jantar e beijo de despedida, pra deixar saudades?! - indaga, com olhar divertido. 
- Não - responde, dando-lhe uma palmada no braço - mas podemos beber um copo depois do trabalho, para descontrair. Hoje preciso de me deitar cedo, amanhã afinal é um grande dia! 
- Pois muito bem, seja feita sua vontade mademoiselle! Queres combinar já a hora ou depois apitas? 
- Hum... acho que às seis estou despachada, sim às seis está óptimo!
- Ok! Seis e meia no Bar!
- Combinado! Até logo! - sorri-lhe e afasta-se a pensar na lista de tarefas incompletas e nas poucas horas que tinha pela frente.

 (Continua...)






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